quinta-feira, 12 de março de 2009

Preconceito humano ou linguístico?

O preconceito não tem embasamento científico. Ele faz parte de uma tradição, e é passado, geralmente, pela família. A cultura preconceituosa é clara quando observamos minuciosamente a forma como ela se dissemina nos ramos da sociedade. Ofensas fazem parte do cotidiano da vida de pessoas menos favorecidas. Mas essas ações não dizem respeito aos linguistas. Na verdade, não interessa se ainda há discussões sobre a origem da linguagem, sobre o estruturalismo ou funcionalismo. O que interessa é que o preconceito linguístico existe, e é um problema nosso.

A língua falada é diferente da língua escrita. Não deve-se exigir uma norma fixa para aqueles que usam o dialeto de uma nação. O preconceito lingüístico, isto é, o conjunto de atitudes, opiniões e valores que usam a língua como fator de discriminação social, abrange as mais ínfimas cadeias sociais. Muitos não pregam uma forma correta de se expressar, porém, ao se depararem com uma dissensão sobre o que consideram como aceitável, discriminam amplamente a pessoa que proferir palavras como “brusa”, “pobrema”ou “framengo”.

A grande maioria dos preconceitos são praticados por pessoas que sabem muito bem que estão cometendo um crime. No entanto, grande parte das pessoas que cometem o preconceito lingüístico, sequer sabem que ele existe ou o que ele significa. Infelizmente somos um país em que boa parte da população não tem acesso à educação. Essa privação, faz com que muitas pessoas não consigam usufruir de todos seus direitos, exatamente pelo fato de não conhecerem o português padrão.

O preconceito lingüístico, lamentavelmente, é conseqüência dos preconceitos sociais. Não por acaso, o preconceito lingüístico frequentemente vem de braços dados com o preconceito social – uma aliança comumente reforçada pela imprensa. O preconceito lingüístico é, na verdade, uma variante dos preconceitos sociais. Os brasileiros, como falantes da língua portuguesa, não deveriam admitir que, por meio da mídia e de algumas pessoas de maior poder aquisitivo, o ser humano pudesse ser tão infamado em sua principal condição: a de ser humano social e político.

É simples distinguir o fator que leva a tamanho preconceito interpessoal. A gramática tradicional conserva-se, até os dias de hoje, bastante intacta. Tornou-se quase uma doutrina a ser adotada e seguida! Doutrina essa que ignora o estudo e os avanços da lingüística, o que acaba gerando um preconceito camuflado. Devemos sim admitir novas e diferentes formas de falar o português. Só assim seremos capazes de reduzir a forma elitista de viver da nossa sociedade.