Texto referente ao post de Terça-feira, 21 de Outubro de 2008
De trabalhador à ameaça para a nação. Essa é a trajetória do perfil de Lindemberg Alves, o cidadão mais comentado em todo o Brasil. O rapaz matou a ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, após tê-la mantido refém por mais de 100 horas. Tudo isso (segundo ele) por amor. Aprisionar alguém que você ama por 4 dias não é prova de amor em lugar algum. O sentimento de Lindemberg por Eloá transformou-se em uma obsessão incontrolável, que o levou a cometer o crime que chocou a nação brasileira.
No início do seqüestro, a opinião do povo brasileiro se divergia quanto à personalidade do seqüestrador. Muitos achavam que Lindemberg era apenas um cidadão trabalhador e apaixonado pelo time de coração, que sofrera uma desilusão amorosa. Porém, ao longo dessa última semana, o modo como o povo ”enxergava” o seqüestrador mudou. Lindemberg passou a ser tachado como um delinqüente que merecia pagar (e caro!) pelo que fez a Eloá e a melhor amiga dela, Nayara Vieira. Não só pelos danos físicos as duas, mas, também, pelos danos morais e sentimentais que ele causou em toda população.
Podemos analisar essa tragédia de inúmeras maneiras. No entanto, devemos averiguar minuciosamente o papel da mídia (principalmente a televisão) para o desfecho do crime. A mídia estava COMPLETAMENTE equivocada ao querer explorar o caso de forma extrema. Entrevistas com o seqüestrador ao vivo, comentários ofensivos contra Lindemberg durante a programação e a postura nada ética de algumas emissoras são alguns exemplos dessa atitude irresponsável da mídia televisiva. As sucessivas reportagens sobre o caso e as avaliações psicológicas sobre o seqüestrador, acabou influenciando no estado emocional do mesmo, e, conseqüentemente, no desfecho do caso. Lindemberg tinha acesso a uma TV dentro do cativeiro, sendo capaz de acompanhar todas as notícias sobre ele que iam ao ar nas emissoras. Isso, sem sombra de dúvida, provocou em Lindemberg uma valorização intensa de sua própria pessoa. Ele acabou vendo-se como o detentor do poder e da fama. Quem é capaz de negar que isso influenciou nas decisões tomadas pelo rapaz???
Toda essa exploração do fato por parte da mídia foi de uma irresponsabilidade inigualável. Uma das emissoras ligou mais de 5 vezes para o seqüestrador, atrapalhando inclusive as negociações da polícia com Lindemberg. Quem é capaz de negar que isso foi uma incrível irresponsabilidade da mídia?? Esses jornalistas devem escolher entre ajudar as negociações e garantir audiência de seus respectivos canais televisivos. Além disso, a imprensa conseguiu narrar todas as atitudes que seriam tomadas pela polícia, o que, de certa forma, garantiu que o ex-namorado de Eloá soubesse tudo aquilo que era armado contra ele.
Outra grande irresponsabilidade dos jornalistas e apresentadores de TV, foi a tentativa de persuadir Lindemberg a libertar as reféns. Analisem comigo: como alguém que desconhece as técnicas adequadas para se conceber uma negociação entre um criminoso armado e a polícia pode tentar transformar-se em um negociador?? Existiam profissionais altamente treinados para isso lá no local. Nenhum jornalista ou apresentador tinha o DIREITO de tentar exortar Lindemberg a liberar Eloá e Nayara.do cativeiro. Vemos também que a mídia procura não tocar nesse assunto. Ela tenta esvair-se do erro irreversível que cometeu, mas, felizmente, temos pessoas com consciência suficiente para analisar e julgar o papel fundamental do jornalismo para o desfecho trágico do caso. Por sermos estudantes de jornalismo, ficamos ainda mais indignados com essa busca incansável pela audiência, como se ela fosse mais relevante do que a vida de duas reféns inocentes.
Para colocarmos fim à segunda parte de nossos posts sobre a tragédia de Santo André, pedimos que vocês leitores reflitam: Será que alguma emissora será devidamente punida pelos atos inconseqüentes que cometeu??
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